O terceiro rebento da colaboração entre Paul McCartney e o produtor Youth investe num experimentalismo autêntico e apaixonado
Depois de atravessar modismos, tendências e marcar a vida de gerações inteiras, é muito animador ver Paul McCartney, à frente de uma inovadora, introspectiva proposta, mais uma vez. Electric Arguments, seu recém-lançado trabalho, é cheio de vida e empenho latente. Produto de mente que ainda fervilha de idéias e coisas pra dizer. Anunciado como "um disco de música eletrônica", a nova investida da dupla formada pelo ex-Beatle e seu comparsa Youth trata-se, na verdade, de uma pequena obra-prima sem amarras. Para fazer jus ao pop experimental de onde partem, eles combinam, e com desenvoltura, ingredientes de ambient house e rock psicodélico. Mas resulta, no fim das contas, num álbum de rock, em sua mais ampla concepção. O que mais atrai em Electric Arguments é que soa ameno e despretensioso, livre do objetivo de ser uma incrível experiência criativa - e por isso mesmo termina sendo. A terceira da tracklist, "Sing the Changes", cativa com sua melodramática melodia vocal, enquanto "Travelling Light", na marcha lenta, garante o clima bucólico ao disco. Outro belo momento está na calmaria sedutora de "Lifelong Passion (Sail Away)", que evoca a crença meditativa de Macca por meio de delicados sons elípticos e um vocal que parece se desmanchar nos entreatos das notas - um daqueles casos em que o clima imposto pelo som traduz muito bem o sentido da letra; e também no andamento leve e constante de "Dance'til We're High", do tipo que ganha o ouvinte quando os instrumentos crescem juntos. Músicas com pegada mais eletrônica e percussiva aparecem lá pelo final, "Lovers In a Dream" e "Universal Here Everlasting Now". Nas duas últimas décadas, justamente por esses planaltos e planícies que permeiam o repertório, pela leve sensação claustrofóbica gerada pelas paredes sonoras em algumas composições, ou até mesmo por causa das texturas e da aventura na criação de faixas um pouco fora do convencional, esta pode ser considerada a realização mais tortuosa de McCartney. Paul continua buscando novos caminhos, e a imprimir uma singular efervescência a tudo aquilo com que se envolve.
Faixas:
1. Nothing too much just out of sight
2. Two magpies
3. Sing the changes
4. Traveling light
5. Highway
6. Light from your lighthouse
7. Sun is shining
8. Dance 'til we're high
9. Lifelong passion
10. Is this love?
11. Lovers in a dream
12. Universal here, everlasting now
13. Don't stop running
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